Força
Registros de uma luta
Fotógrafa eterniza a beleza e a força de mulheres que enfrentaram a batalha do câncer de mama
Jô Folha -
Quatro mulheres sorridentes, falantes e bem-humoradas. Quem vê de fora, não imagina a batalha pela vida que cada uma delas enfrentou. Há algum tempo, a rotina das quatro era preenchida por idas a hospitais e sessões de quimioterapia. Hoje, as quatro dão lições de superação que vão além das palavras. Por isso, a fotógrafa Kelly Schmidt resolveu registrar em imagem o cotidiano dessas mulheres, tirando o foco da dor e dos estigmas trazidos pela doença. O projeto fotográfico Laços da Mama faz parte das comemorações dos cinco anos do Instituto Buquê de Amor (IBA), organização que auxilia vítimas do câncer mamário.
O câncer de mama é o tipo de tumor que mais mata mulheres no mundo. Em nosso país, é o maligno de maior incidência entre as brasileiras, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Na tentativa de mudar essa realidade, o IBA trabalha há cinco anos buscando ajuda financeira com parceiros e empresários para pagar mamografias e outras iniciativas de prevenção ao câncer de mama. Além disso, presta apoio psicológico às vítimas da doença. Entre as atendidas pelo IBA estão as quatro mulheres fotografadas por Kelly em seu projeto: Janaína Silva, Clair Crizel, Rosamar Gularte e Maria Inez Silveira.
A ideia da exposição surgiu quando Kelly perdeu uma prima para o câncer de mama. Depois de acompanhar sua batalha, a fotógrafa sentiu a necessidade de mostrar isso para o mundo. "Percebi que o câncer não tem a ver só com uma mulher e seu seio. É mais do que isso: é uma luta de toda uma família." Então, a artista procurou o IBA e acabou conhecendo as quatro protagonistas da mostra.
Depois, Kelly passou um dia inteiro na casa de cada uma delas. Acompanhou de perto a rotina com a família, do início da manhã até a hora de dormir, passando por momentos íntimos, como o banho. As fotos da artista retratam, com sensibilidade, o dia a dia de cada uma dessas mulheres, que, apesar da luta pela vida, são pessoas comuns, com responsabilidades e afazeres normais.
Imagens que contam histórias
Quando as quatro mulheres observaram as fotos pela primeira vez, foi difícil segurar as lágrimas de emoção. Mais do que imagens, aquelas fotos contam histórias de luta e muita força de vontade. A foto preferida de Clair Crizel, 58 anos, mostra a tatuagem com o nome de seus três netos. Para Clair, os dois primeiros meses após o diagnóstico foram de susto: "No começo, tu ouve que câncer é morte", conta. Foi nos netos que ela encontrou forças para seguir. "É neles que eu me inspiro para continuar. Tu não pode se lamentar, tem que seguir em frente e continuar lutando", diz.
Janaína Silva, 40 anos, enfrenta sua segunda batalha contra o câncer. Há poucos meses, ela descobriu estar novamente acometida pela doença. De volta à rotina de tratamentos, Kelly se diz mais forte: "O câncer não me assusta mais". Para ela, as fotos são um símbolo de superação. "Kelly teve muita sensibilidade ao nos mostrar como mãe, como filha, como mulher. A mensagem é que, mesmo com os efeitos dos tratamentos, é possível ser forte e superar", relata.
Rosamar Gularte, 41 anos, perdeu a mãe para o câncer de mama. Parte de sua força de vontade para viver vem da vontade de não deixar que a família sofra novamente com a doença. "Não pude ver minha mãe ficar velhinha, como eu tanto queria. O câncer já me venceu uma vez e não vai vencer de novo." Rosamar descobriu o câncer em seu terceiro estágio. Enquanto ajudava a amiga Clair a lutar, não fazia ideia de que ela própria também tinha a doença. "Eu animava a Clair e nem imaginava que também estava com câncer. Isso mostra que ninguém está livre disso."
Em 2018, completam-se 11 anos desde que Maria Inez Silveira, 62 anos, venceu a doença. Com as fotos, ela pretende mostrar que é possível enfrentar, e ganhar, essa batalha: "Não dá pra fingir que o câncer não existe. Tem que enfrentar e pronto. A gente também tem que ter esperança. Sem esperança, somos como uma caneta sem tinta, não servimos pra nada". Maria Inez destaca a importância de não se abalar com as adversidades: "Temos que florir onde a vida nos plantar", completa.
Lições de autoestima
Apesar das diferentes histórias de vida, as quatro mulheres tratam a doença da mesma forma: com leveza e bom humor. "Tem que ver o lado positivo das coisas", explica Clair. Janaína, ainda em tratamento, se diverte com a falta de cabelo: "Me sinto linda com a carequinha. É até melhor, não gasta xampu, não bagunça", brinca.
A perda do cabelo e a mastectomia não afetaram a autoestima de Rosa. Apesar do estranhamento do marido, ela não se abalou. "Procurei beleza em mim e encontrei. Tu tem que te amar e não os outros", conta.
Exposições
O projeto será exposto pela primeira vez hoje, às 19h, no Parque Una, em evento para convidados. Nos dias 25 e 26, a exposição poderá ser vista no Congresso de Oncologia da UFPel. Já durante o mês de junho, as fotos estarão no Hospital-Escola, em exposição aberta ao público.
A doença
O câncer de mama é um tumor maligno que se instala nas glândulas mamárias quando as células passam a se dividir de forma desordenada. A enfermidade não apresenta sintomas em sua fase inicial, por isso é tão difícil detectá-la precocemente. Apesar de menos comum, também afeta homens.
Para a prevenção, a recomendação do Inca e do Ministério da Saúde é que as mulheres pratiquem o autoexame e, entre os 50 e os 69 anos, façam a mamografia a cada dois anos. No entanto, entidades como a Sociedade Brasileira de Mastologia recomendam o exame de mamografia seja feito em mulheres a partir de 40 anos e com periodicidade anual. Vale lembrar que quanto antes o câncer é identificado, mais altas são as taxas de sucesso no tratamento.
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